Veículo continha carga explosiva, uma nota com mensagens antissemitas e uma lista de sinagogas.
A caravana cheia de explosivos que foi encontrada na Austrália, fazia parte de um “golpe terrorista fabricado” concebido por um grupo de criminosos, segundo comunicou a polícia australiana esta segunda-feira, avança o Correio da Manhã.
O veículo encontrado em Sydney, no dia 19 de janeiro, continha carga explosiva suficiente para produzir danos num raio de 40 metros e uma nota com mensagens antissemitas, bem como uma lista de sinagogas, avança a BBC.
A descoberta provocou uma onda de pânico na população, devido aos vários ataques de origem antissemita que têm ocorrido na Austrália.
A Polícia Federal Australiana (AFP) revelou esta segunda-feira que soube “quase imediatamente” que a caravana seria parte de um “estratagema criminoso”. As autoridades acreditavam tratar-se de um “golpe terrorista fabricado” devido à facilidade com que encontraram a caravana e ao facto de não haver um detonador lá dentro.
Contudo, a polícia não informou logo o público dessa suspeita “por elevada precaução” e porque continuavam a receber denúncias de outros golpes relacionados. Krissy Barrett, vice-comissária da segurança nacional da AFP, garante agora que as denúncias também foram fabricadas.
Os envolvidos no estratagema planearam comprar uma caravana, enchê-la de explosivos e materiais antissemitas e deixá-la num local específico, para depois informar as autoridades sobre um “ataque terrorista contra judeus australianos”.
Barrett descreveu o plano como um “esquema complexo elaborado por criminosos organizados no local e à distância”, acrescentando que o líder do golpe manteve sempre a distância, contratando criminosos locais para executar partes da operação.
O indivíduo que liderou o esquema é uma figura conhecida do crime organizado, confirmou a vice-comissária. Apesar de ainda não haver detidos no âmbito da investigação do incidente, a polícia tem uma lista de possíveis alvos na Austrália e no estrangeiro.
“Demasiados criminosos são acusados de pagar a outros para executar incidentes antissemitas ou terroristas para chamar a nossa atenção [da AFP] ou desviar os nossos recursos”, afirmou Barrett.
A vice-comissária realçou ainda que “a pessoa a puxar os cordelinhos quer alterações no seu estatuto criminal”. Barrett explicou que é bastante comum os criminosos utilizarem o fornecimento de informações às autoridades para proveito próprio, tendo em vista, nomeadamente, a redução de penas.
“Independentemente da motivação daqueles responsáveis por este esquema falso, isto teve um efeito assustador na comunidade judaica”, garantiu a vice-comissária. “Também houve suspeitas direcionadas a outras comunidades – e isso também é repreensível”, acrescentou Barrett.
A Polícia de New South Wales (NSW) deteve 14 pessoas, esta segunda-feira, por outros crimes antissemitas em Sydney, no âmbito de uma operação policial que teve início em dezembro de 2024, denominada Strike Force Pearl.
A operação surgiu no seguimento de vários ataques antissemitas que ocorreram no final de 2024, na Austrália, incluindo a vandalização de uma escola judaica e o incêndio de uma creche.
David Hudson, vice-comissário da NSW, defende que o incidente da caravana “foi orquestrado pelo mesmo indivíduo ou indivíduos que orquestraram os incidentes de Pearl”.
O vice-comissário notou que nenhum dos detidos apresentou “nenhum tipo de ideologia antissemita”. “Eu penso que o que estes líderes de crime organizado fizeram foi jogar com as vulnerabilidades da comunidade”, acrescentou Hudson.