Descansa em paz soba Caxinga, homem de sapiente cránio

“Meu pai, não podia ser assim. Meu muaidiei, vou te chorar como, não consigo te chorar”, foram essas as palavras que no dia 15 de Maio, me tocaram alma de forma silenciosa. E logo percebi, morreu o professor Jacinto.

Jacinto Inga Kapita, mais conhecido por professor Jacinto, foi meu professor nas 3ª e 4ª classes, no ensino de base, na Escola Grande, no Cazenga, nos anos 90.

O professor Jacinto era muito rigoroso, estava recentemente em Luanda, proveniente do Kwanza-Norte, e ficou desiludido com o número de crianças na escola, na época, numa cidade que não tinha guerra, que não sabiam ler nem escrever e com idade avançada, e entre essas crianças estava eu.

Foi este senhor que me ensinou a ler, não a ler com mimos, mas a ler com palmatórias (chicotes), porque, segundo ele, eu já tinha idade suficiente para ler.

Foi através das “porradas” deste professor que aprendi a ler.

Quando se tratava de ensinar, este senhor não tinha piedade.

As suas aulas sempre foram enriquecidas com o seu empenho.

A última vez que nos cruzamos pessoalmente foi no IMEL, no princípio do ano de 2004, estava eu a terminar o ensino médio, e ouvi deste prof a seguinte palavra: “Calueto não pare de estudar. Assim que terminares vá para faculdade”.

De facto não fui para faculdade após terminar o médio, como pediu um dia o prof, por razões financeiras, mas anos depois entrei e me formei em Comunicação Social.

Não tive o privilégio de dizer ao professor pessoalmente que já estou formado. Mas sei que ele soube e teve orgulho!

Jacinto Inga Kapita, o senhor fez a diferença na vida dos seus alunos, e eu não sou excepção.

Gostei muito de ter sido seu aluno, e agradeço do fundo do meu coração!

Há mais de 10 anos que não o via, e recentemente fiquei muito feliz em saber que afinal era o pai de um colega de profissão, o jornalista e amigo Kapita O Catuta.

Na manhã do dia 15 de Maio, já no serviço, ao abrir o Facebook, logo vi uma publicação do Kapita a comunicar a morte do pai.

Que duro golpe para nós que o conhecemos bem! É com o coração partido que falo de si, professor.

Mais do que um professor, o senhor foi um exemplo de pessoa.

Fará falta neste país que precisa de professores com qualidade.

Há pessoas que despertam algo especial em nós, que abrem os nossos olhos de modo irreversível e transformam a nossa maneira de ver o mundo. E o senhor foi uma dessas pessoas!

Não pude acompanhar a sua família ao “Quicolongo”, kwanza-Norte, sua terra natal, para assistir ao seu sepultamento. Mas no seu óbito, em Luanda, lá estive e com a sua família choramos.

Descansa em paz soba Caxinga!

Por: Fernando Calueto/ jornalista

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