Atropelamento em mercado de Natal faz cinco mortos. Médico saudita, de 50 anos, é defensor dos refugiados “anti-Islão”

Pelo menos cinco pessoas morreram, incluindo uma criança de nove anos, e cerca de 200 ficaram feridas, 41 das quais em estado grave, na sequência de um atropelamento intencional, na noite de sexta-feira, num mercado de Natal, em Magdeburgo, no Leste da Alemanha. Dezenas de pessoas foram arrastadas pelo carro que só parou ao fim de 400 metros.

O condutor, que agiu sozinho, foi detido no local quando tentava fazer marcha-atrás. Taleb al-Abdulmohsen, de 50 anos, natural da Arábia Saudita, morava em Bernburg, a cerca de 50 quilómetros do local do acidente e é psiquiatra.

Chegou à Alemanha em 2006, como estudante, e obteve asilo em julho de 2016, depois de ter sido ameaçado de morte por se ter afastado do Islão. A ministra do Interior, Nancy Faeser, disse que o suspeito era islamofóbico sem dar mais pormenores sobre as filiações políticas do homem.

Segundo a imprensa alemã, Taleb considera-se um ex-muçulmano e opositor do Islão. “Pessoas como eu, que têm antecedentes islâmicos mas já não são crentes, não são recebidas com compreensão nem tolerância pelos muçulmanos aqui. Sou o crítico mais agressivo da história do Islão”, disse o homem numa entrevista ao jornal alemão ‘FAZ’, em 2019.

Era também um ativista a favor das mulheres sauditas. Informava e aconselhava mulheres sauditas sobre as possibilidades de fugirem do país e tinha uma página na Internet com informações sobre o sistema alemão de asilo. Numa entrevista ao ‘Frankfurter Rundschau’, em 2009, contou que muitas sauditas o procuraram, em busca de proteção. Nas redes sociais, mostrou simpatia pela Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema-direita, porque dizia ser o único partido que lutava contra o Islão na Alemanha.

Há um ano, as autoridades receberam uma queixa contra Taleb, devido a declarações no Twitter em que dizia que a Alemanha iria “pagar um preço” pela alegada perseguição de refugiados da Arábia Saudita. Numa entrevista difundida há uma semana, num blog islamofóbico dos EUA, afirmava que a Alemanha tinha uma operação secreta para perseguir ex-muçulmanos sauditas em todo o Mundo e, ao mesmo tempo, concedia asilo a jihadistas sírios.

“Temos de nos unir contra o ódio”

O chanceler alemão visitou este sábado Magdeburgo para prestar homenagem às vítimas do atropelamento e prometeu agir contra os “que querem semear o ódio”.“Temos de perceber exatamente quem é o autor do crime, o que fez e porquê, para podermos reagir com as necessárias consequências penais. E é isso que vamos fazer”, prometeu Olaf Scholz. “Recebi homenagens a nível internacional e, enquanto Alemanha, não estamos sós.

Os meus pensamentos estão com as vítimas e as suas famílias”, disse. Acrescentou, ainda, que “a União Europeia está solidária com a Alemanha”.Um dia após a tragédia, centenas de pessoas homenagearam as vítimas deixando flores, velas e peluches num memorial improvisado perto do mercado de Natal onde tudo aconteceu.

O ataque levou a que várias outras cidades alemãs cancelassem os seus mercados de Natal durante o fim de semana por precaução, mas também por solidariedade. Já na Áustria, as autoridades decidiram reforçar as medidas de segurança nos mercados de Natal de Viena, e também de outras cidades.

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