CAMINHO PARA O FIM DO SOFRIMENTO DOS ANGOLANOS

Leonel Mateus

Prof. Auxiliar na UAN e Ph.D em GRH

Angola completou em 2024, 49 anos desde a proclamação da sua independência a 11 de Novembro de 1975, em Luanda. No entanto, são visíveis alguns sinais de crescimento nos principais centros urbanos, mas em relação ao seu desenvolvimento, factor que mais se relaciona com a qualidade de vida, não se veem sinais que possam indicar o início para o fim do sofrimento deste heroico povo angolano.

E como consequência, o desgaste da imagem do partido governante é visível, a julgar pelos resultados eleitorais desde 2008, e também pelo desconforto que os seus militantes vêm sentindo junto das comunidades. Pois, como sabem, só o simples facto de se estar a governar, já é uma condição suficiente de desgaste. E, no caso particular de Angola que, para além do longo período de guerra, agregam-se outras evidências negativas, como é o caso do desconhecimento das tendências actuais de gestão, por parte da maioria dos seus gestores. Portanto, todos estes factores terão contribuído para a chamada má governação, com reflexos visíveis na qualidade de vida das pessoas, razão pela qual o povo se questiona: – Quando e por onde passará o fim do sofrimento dos angolanos?

Com base nesta preocupação legítima, pretende-se explicar qual o caminho a ser seguido para se pôr fim ao sofrimento dos angolanos, sem que haja necessidade de continuarem a se gladiarem em vão. À título de curiosidade, se a pergunta de partida for colocada de forma aberta, como prova diagnóstica, a probabilidade de se acertar, pode obedecer à relação de um por cem mil académicos – a julgar pelos comentários nos meios públicos – já que, hoje, a maioria arremessa pedras para direcções incertas por defender teorias cientificamente pouco credíveis. Senão vejamos: tornou-se comum a teoria de que o fim do actual estado de miséria passa pela institucionalização das autarquias locais e na tentativa de forçar alternância do poder político, generaliza-se também a teoria da substituição do partido no poder.

Quanto a estas teorias e longe de quaisquer paternalismos, o autor chama a atenção para a seguinte afirmação de dois categorizados cientistas: o primeiro, Armando Cuesta, dizia: “Se os países pobres decidirem dominar e utilizar as tendências actuais de gestão das instituições, podem atingir o desenvolvimento, saltando vários decénios”, enquanto que o segundo, Albert Einstein, dizia que “Não se pode encontrar a solução de um problema, usando a mesma consciência que o criou. …”.

Ora, recorrendo ao pensamento de Abraham Maslow, segundo o qual a melhoria da consciência e as tendências actuais de gestão passam pela formação de todos os intervenientes no processo de gestão, é fácil perceber que o estilo mecanicista e empírico, baseado no senso comum, que tem vindo a ser utilizado para dirigir as instituições públicas, os próprios partidos políticos concorrentes, assim como as demais organizações sociais e empresariais, não dá garantias nenhumas de que a alternância do poder político é, realmente, a solução para o problema da pobreza em Angola.

Portanto, a alternância política, no âmbito da democracia multipartidária, é sim um indicador, facultativa, mas pensar que é o caminho certo para a mudança do estado actual em que se encontra o país, é uma pura utopia e um erro de paralaxe; é como disparar um milhão de projéteis contra um alvo, sem saber se este se encontra naquela mesma direcção; é como lutar para tirar o javali do poder e no seu lugar colocar o porco.

É preciso compreender que a salvação do país do actual estado de miséria, deve ser pensada numa perspectiva científica que nos conduz para uma solução segura, nacional, colectivista e definitiva e não continuar a usar-se caminhos que, geralmente, apontam muito mais para a satisfação de interesses políticos.

De salientar que ao contrário da Era em que as relações que se estabeleciam entre as pessoas e as instituições estavam baseadas nos princípios da administração científica, fazendo recurso, apenas, à cabeça para responder a quesitos inerentes à vida, com as pessoas a serem consideradas e tratadas como recursos, hoje, gerir as pessoas que trabalham nas instituições, buscando optimizar a maneira como colaboram para a obtenção dos objectivos principais, é tarefa que exige ciência, dedicação, persistência, sensibilidade e fundamentalmente humanismo.

Sobre isso, Pinto no seu livro “balanced scorecard (BSC) – Alinhar mudanças, estratégia e performance nos serviços públicos”, menciona exemplos de sucesso dos países nórdicos da Europa nomeadamente, Suécia, Noruega e Finlândia. Este último, tem baixo nível de corrupção, apresenta altos níveis de protecção do ambiente, de educação e cuidados de saúde pública. E tudo isso não foi feito com acções empíricas ou mecanicistas e do senso comum, como se tem assistido, com maior realce nos países africanos. O governo finlandês, efectuou um profundo estudo sobre as causas do baixo desenvolvimento das instituições, tendo resultado na necessidade do completo divórcio com o velho estilo de administração científica e adoptou modelos de gestão por competências, baseado nas tendências actuais. Com esta estratégia, o governo da Finlândia, eleito em 1987, implementou uma completa refundação das instituições públicas – é o que de Angola se espera – com enfoque na orientação para as necessidades humanas.

E em 1990, a Finlândia aplicou, como projecto-piloto, o orçamento baseado em “performance related pay – PRP”, mediante o método Benchmarking Interno em três serviços públicos. É aqui que se destacam os nexos causais entre os objectivos estratégicos nas quatro perspectivas do BSC de Kaplan e Norton.Portanto, para se alcançar o fim do sofrimento dos angolanos, evitando, assim, os desnecessários passos lentos de camaleão que os governos africanos adoram, o país deve abandonar o estilo mecanicista e empírico, adoptando modelos (clássicos ou autóctones) de gestão por competências laborais assentes nas tendências actuais. Para isso, devem ser efectuadas profundas reformas, no sistema de educação e ensino, e em seguida, submeter à formação, todos os actores políticos, gestores e técnicos dos diferentes níveis e instituições, sem excepção. Este é o caminho para assegurar a implementação dos processos tendentes a uma efectiva mudança de atitude, no país e, com isso, iniciar-se um programa de governação pacífica, orientado à disseminação de um estilo real de gestão estratégica, virado para a satisfação das necessidades humanas, em todas as instituições públicas, privadas e também nas organizações sócio-políticas. Só assim, a alternância política poderia ser considerada como uma alternativa válida para a solução do problema da pobreza em Angola e, não de outro modo.

4 thoughts on “CAMINHO PARA O FIM DO SOFRIMENTO DOS ANGOLANOS

  1. É necessário tocar sempre neste assunto e que sejam envolvidos comunicação social para deseminal estás ideias para que se desperta a comunidade nacional e os que no dirigem.

  2. O texto é uma análise profunda e bem fundamentada, que apresenta soluções viáveis e uma visão estratégica para o desenvolvimento de Angola. No entanto, seria importante equilibrar a crítica à alternância política com um reconhecimento de sua importância como parte do processo democrático. Além disso, o sucesso de qualquer proposta depende de um compromisso coletivo, que una esforços entre governo, sociedade civil e comunidade internacional.
    “Permita-me destacar detalhadamente 6 aspectos referidos aqui no seu conteúdo”.
    1. Reconhecimento do Problema

    O autor reconhece que o longo período de guerra, aliado à má gestão pública e à falta de domínio de tendências modernas de administração, tem sido um dos principais fatores responsáveis pelo estado atual de miséria em Angola. Este é um diagnóstico realista e importante, que traz à tona a necessidade de reformas profundas.

    2. Questionamento das Alternativas Comuns

    A crítica à ideia de que a alternância política ou a institucionalização das autarquias locais seriam soluções automáticas é pertinente. O autor sugere que esses caminhos, por si só, não garantem mudanças substanciais, especialmente se forem adotados de maneira superficial ou sem uma base sólida de gestão e formação.
    • Ponto Forte: Chamar a atenção para a necessidade de uma perspectiva mais ampla e estratégica.
    • Ponto Fraco: A abordagem pode ser interpretada como um possível enfraquecimento da importância de processos democráticos e de descentralização, que são instrumentos reconhecidamente eficazes para fomentar accountability e desenvolvimento local, se bem implementados.

    3. Referência a Modelos de Sucesso

    O uso de exemplos como o da Finlândia é valioso. Ele demonstra que reformas estruturais, baseadas em ciência e na adaptação às necessidades humanas, podem transformar instituições públicas e melhorar a qualidade de vida.
    • Relevância: O exemplo da Finlândia é inspirador, mas o contexto cultural, histórico e econômico de Angola é diferente. Embora seja possível adaptar práticas de sucesso, é essencial reconhecer essas diferenças para que as reformas sejam sustentáveis e realistas.

    4. Gestão Estratégica e Formação

    O autor enfatiza a formação como um pilar central para a mudança, destacando a necessidade de abandonar métodos mecanicistas e empíricos em favor de uma gestão estratégica baseada em competências. Este é um ponto crucial, pois o fortalecimento institucional passa inevitavelmente pela qualificação de seus agentes.
    • Sugestão Complementar: Além da formação, seria importante incorporar sistemas de avaliação de desempenho e métricas de accountability para garantir que as práticas de gestão sejam sustentáveis e transparentes.

    5. Reflexão sobre o Papel da Alternância Política

    O texto não rejeita a alternância política, mas ressalta que ela só será efetiva se vier acompanhada de mudanças estruturais profundas. É uma posição válida, pois alternância sem reformas pode perpetuar ciclos de ineficiência e corrupção.
    • Crítica: A alternância política tem um papel importante em dar voz às populações marginalizadas e em renovar a legitimidade dos governos. Mesmo que não seja a solução final, ela pode criar espaço para as reformas sugeridas pelo autor.

    6. Proposta de Caminho

    O caminho sugerido – reformas na educação, formação de gestores e adoção de modelos de gestão baseados em competências – é coerente e promissor. A implementação, porém, requer planejamento detalhado, investimentos significativos e um compromisso político que, muitas vezes, tem sido ausente em Angola.

  3. Primeiro quero parabenizar o Dr.Leonel pelo artigo, contém informações extremamente importante sobre um problema que é de interesse de todo povo Angolano.

    Aproveito dizer que a educação é a base para um futuro promissor, seja qual for o país, infelizmente falta muito para Angola ter uma educação de qualidade.
    Entretanto concordo com a análise que o Dr fez, só estaremos no fim do sofrimento quando for investido na educação e esse investimento o partido que está no poder pode fazer, talvez seja falta de vontade de quem lidera ou falta de boas estratégias.

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