Com 65,17% dos votos, Conselho Constitucional proclama o candidato da Frelimo vencedor das presidenciais. Venâncio Mondlane, do Podemos, angariou 24,19%, e promete avançar com novas manifestações.
O Conselho Constitucional (CC) de Moçambique anunciou, esta segunda-feira, os resultados finais das eleições gerais moçambicanas realizadas no dia 9 de outubro e proclamou o candidato apoiado pela Frelimo, Daniel Chapo, como vencedor nas presidenciais com 65,17% dos votos, numa decisão que não é passível de recurso e que é final.
Em segundo lugar, segundo o Conselho Constitucional, ficou Venâncio Mondlane, do Podemos, que angariou 24,19% dos votos.
Em terceiro, ficou Ossufo Momade, da Renamo, com 6,62%, enquanto o líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Lutero Simango, obteve 4,02%.
“Somos todos irmãos”, reiterou o Presidente proclamado pela Comissão Constitucional, prometendo que “vai governar para todos”. “Cuidarei do povo moçambicano como se cuidasse da família”, enfatizou, dizendo que a vitória da sua candidatura nas presidenciais é uma “vitória para todos os moçambicanos”.
Daniel Chapo assinalou que é necessário reforçar a “unidade nacional na diversidade”, “o alicerce fundamental da democracia”. “Só seremos uma nação. A verdadeira força é ouvirmo-nos uns aos outros”, finalizou, num alusão aos protestos que têm tomado conta das ruas.
A contagem recusada do Podemos e as manifestaçõesA contagem paralela do Podemos foi recusada, segundo indicou Lúcia Ribeiro.
De acordo com esta contagem, o candidato presidencial do partido, Venâncio Mondlane, vencia as eleições com mais de 50% dos votos.Ora, Venâncio Mondlane, que tem organizado uma série de protestos, que já provocaram pelo menos 130 mortos, prometeu avançar com novas manifestações — uma nova fase chamada “Turbo V8” — caso o CC não reconhecesse os resultados da contagem paralela.
Num vídeo publicado na sua conta do Facebook, o candidato presidencial do Podemos repetiu, esta segunda-feira, as ameaças: “É hoje que vamos saber se o nosso país vai para o caminho da liberdade, dos Direitos Humanos, das liberdades fundamentais da democracia, ou se o nosso país vai continuar na ditadura, na violação dos Direitos Humanos, se vai continuar como uma tirania, como se fosse um reinado de algumas pessoas, sobretudo o reino do partido Frelimo”.
Venâncio Mondlane colocou na mira a presidente do Conselho Constitucional, avisando que as “palavras que saírem da boca de Lúcia Ribeiro” poderão “fazer a guerra” e os seus “nunca mais terão paz na suas vidas”.
Neste sentido, enquanto decorria a leitura do acórdão de proclamação dos resultados, já manifestantes, apoiantes de Venâncio Mondlane, contestavam na rua, com pneus em chamas.
magoar, de agredir e de destruir aquelas que são as conquistas dos moçambicanos”. A mandatária espera que o candidato presidencial do Podemos apele e mobilize “os seus apoiantes” a “aceitar os resultados” e a “trabalhar pelo bem dos moçambicanos”.
A 24 de outubro, a Comissão Nacional de Eleições (CNE) anunciou a vitória da Frelimo, nas três eleições, incluindo do seu candidato presidencial Daniel Chapo (70,67%), resultados que necessitavam de validação e proclamação pelo CC. Esta segunda-feira, os resultados foram ligeiramente distintos, mas Daniel Chapo continua a vencer confortavelmente as presidenciais.
As eleições gerais de 9 de outubro incluíram as sétimas presidenciais — às quais já não concorreu o atual chefe de Estado, Filipe Nyusi, que atingiu o limite de dois mandatos — em simultâneo com legislativas e para assembleias e governadores provinciais.
Marcelo “tomou conhecimento” dos resultados e destaca “importância do diálogo democrático entre todas as forças políticas”O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, diz que “tomou conhecimento” do candidato e da força política “declarados formalmente vencedor” pelo Conselho Constitucional, não se alongando em considerações.
Numa nota publicada no site da presidência, o Chefe de Estado assinala ver com bons olhos “a intenção já manifestada de entendimento nacional e sublinha a importância do diálogo democrático entre todas as forças políticas”, que deve “constituir a base de resolução dos diferendos, no quadro e no reconhecimento das novas realidades na sociedade moçambicana e do respeito pela vontade popular”.
No final da nota, Marcelo Rebelo de Sousa reafirma a “amizade fraternal” entre Portugal e Moçambique, lembrando a “cooperação e parceria” dos dois países, na construção da paz, no respeito pelos Direitos Humanos, da Democracia e do Estado de Direito, no Desenvolvimento Sustentável e na Justiça Social.
Montenegro pede “transição pacífica e inclusiva”. O primeiro-ministro, Luís Montenegro, também já reagiu à proclamação pelo Conselho Constitucional moçambicano. No X (antigo Twitter), o chefe do executivo sublinha e pede que a “transição que agora se inicia” decorra de “forma pacífica e inclusiva”, num “espírito de diálogo democrático, capaz de responder aos desafios sociais, económicos e políticos do país”.
“A paz e a estabilidade social em Moçambique são valores inestimáveis, que devem ser salvaguardados na fase de transição política que agora se inicia”, lê-se na nota. A diplomacia portuguesa espera que “o novo ciclo governativo reflita um compromisso de inclusão, em espírito de diálogo, capaz de responder aos desafios sociais, políticos e económicos que o país enfrenta”.
“Torna-se por isso essencial que as novas autoridades moçambicanas possam iniciar quanto antes um debate político inclusivo com as forças da oposição e representantes da sociedade civil que reforce a coesão nacional, garanta a estabilidade social e fomente o progresso e desenvolvimento do povo moçambicano”, adianta-se no comunicado.CPLP apela à serenidade e disponibiliza-se para apoiar a paz em Moçambique.
A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) apelou esta segunda-feira às partes envolvidas no processo eleitoral em Moçambique para que “ajam com serenidade e responsabilidade” e disponibilizou-se para apoiar iniciativas que promovam a paz e a estabilidade.
Em comunicado, a presidência rotativa da CPLP, a cargo de São Tomé e Príncipe, afirmou estar a acompanhar os resultados definitivos anunciados pelo Conselho Constitucional (CC) da República de Moçambique, que confirmaram Daniel Chapo como Presidente eleito, assim como os recentes acontecimentos marcados por manifestações e episódios de violência após as eleições de 9 de outubro deste ano.
A organização lusófona apelou “a todas as partes envolvidas para que ajam com serenidade e responsabilidade, priorizando o diálogo construtivo como o caminho mais eficaz para superar as diferenças e promover a estabilidade”.“Dada a forte relação histórica, cultural e de amizade com o povo moçambicano, a CPLP expressa a sua solidariedade a todos os cidadãos neste momento sensível”, prossegue-se no comunicado.
Observador