“O único país do mundo que ataca locais como este é a Rússia de hoje”, escreveu Volodymyr Zelensky, na rede social X. Agência Internacional de Energia Atómica garante que os níveis de radiação “permanecem normais e estáveis”.
Um drone russo, que transportava uma ogiva altamente explosiva, atingiu o escudo de proteção do reator 4 da central nuclear de Chernobyl, no norte da Ucrânia, próximo da fronteira com a Bielorrússia, a 130 quilómetros de Kiev.
Foi ali colocado para evitar fugas de radiação, na sequência do maior acidente nuclear da história, ocorrido a 26 de abril de 1986. A explosão do reator, seguida de um incêndio, contaminou uma vasta área, abrangendo a Ucrânia (na altura União Soviética), Bielorrússia e Rússia, obrigando à retirada de milhares de habitantes.
Segundo a ONU, 8,4 milhões de pessoas foram expostas à radiação. A zona em torno da central, num raio de quilómetros, permanece inabitável. O ataque levado esta sexta-feira a cabo por Moscovo foi denunciado por Zelensky. “O único país do mundo que ataca locais como este, ocupa centrais nucleares e faz a guerra sem ter em conta as consequências é a Rússia de hoje”, escreveu o Presidente ucraniano na rede social X.
A explosão desta sexta-feira ficou gravada em imagens de vídeo, onde se vê um enorme clarão, que iluminou a madrugada. “A estrutura de proteção [de betão e aço, conhecido como sarcófago], foi construída pela Ucrânia em conjunto com outros países da Europa e do mundo, em conjunto com os Estados Unidos, em conjunto com todos aqueles que estão empenhados na verdadeira segurança da humanidade”, frisou Zelensky na sua mensagem.
Numa primeira avaliação, a Agência Internacional de Energia Atómica garante que “os níveis de radiação no interior e no exterior permanecem normais e estáveis”, acrescentando que vai “continuar a monitorizar a situação”. O ataque à central de Chernobyl – cuja autoria a presidência russa nega – não foi o único levado a cabo por Moscovo.
Segundo o exército ucraniano, a Rússia disparou 133 drones contra 11 regiões da Ucrânia.
Ainda que a maioria tenha sido intercetada, há registo de danos em infraestruturas do porto de Odessa. Para Volodymyr Zelensky, a ‘chuva’ diária de drones e mísseis só tem uma leitura: “Putin não está interessado em negociações, mas em continuar a enganar o mundo.”
Aumentam ataques à central de Zaporijia
u O diretor-geral da Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA), Rafael Grossi, denunciou esta sexta-feira um aumento dos ataques à central nuclear ucraniana de Zaporijia, a maior da Europa e sob controlo militar russo desde 2022. “O número de ataques à central de Zaporijia está a aumentar. Falamos sobre isso em cada um dos nossos relatórios”, disse Grossi no fim de conversações em Moscovo com o chefe da agência nuclear russa Rosatom, Andrei Likhachev.
Grossi, que visitou a Ucrânia durante a semana, disse que “a situação não tem precedentes, uma vez que a maior central da Europa se encontra no epicentro de ações militares”. Garantiu que os esforços da AIEA se destinam “a evitar um incidente nuclear com consequências graves”.
Disse também que a agência especializada da ONU continuará a trabalhar para “garantir a estabilidade” da central de Zaporijia. Quanto aos responsáveis pelos ataques, disse que os pequenos fragmentos de plástico e de madeira provenientes dos ‘drones’ envolvidos não permitem determinar a origem dos engenhos.
ATAQUE ESTRAGOS
A central nuclear de Chernobyl, que foi esta sexta-feira atacada com drone pelo exército de Moscovo (e cujos estragos são bem visíveis nas duas imagens que aqui reproduzimos), só foi encerrada definitivamente em dezembro de 2000, ou seja, 14 anos após a catástrofe.