Os recentes episódios envolvendo o discurso do Presidente de Angola por ocasião dos 50 anos de independência, o pronunciamento da TPA e a reação do presidente do partido Chega, em Portugal, revelam que as feridas do passado colonial ainda não cicatrizaram completamente nem em Angola, nem em Portugal.Sociologicamente, trata-se de um choque entre memórias históricas e identidades nacionais.
Paterson Simão — Sociólogo
Quando o Presidente angolano recorda o sofrimento do colono e a dura luta pela libertação, não fala para ferir, mas para reafirmar a soberania e a dignidade reconquistada.
É um gesto de memória e de afirmação coletiva.Por outro lado, a reação do líder do Chega expressa uma visão defensiva da história, típica das antigas potências coloniais que ainda enfrentam dificuldades em lidar com o seu legado imperial.
A TPA, ao dar visibilidade ao discurso presidencial, cumpre o papel simbólico de fortalecer a identidade nacional, mas a forma como a mensagem é interpretada fora do contexto pode gerar percepções de confronto.
No fundo, estes discursos cruzados mostram que as relações entre Angola e Portugal não são apenas políticas ou diplomáticas são também sociológicas e emocionais. Elas refletem como cada povo lida com o passado e constrói a sua memória coletiva.
O risco é deixar que a memória da dor se transforme em arma política. O desafio, ao contrário, é transformar essa memória em ponte de entendimento onde o reconhecimento mútuo substitui a acusação, e a história se torne um espaço de aprendizagem, não de divisão.
