Higino Carneiro: ENTRE O SILÊNCIO DAS EXPLICAÇÕES E O RUÍDO DAS DENÚNCIAS

A alegada assessoria de Higino Carneiro publicou uma nota de imprensa. Objectivo? Negar tudo: desde a suposta ligação a um ex-agente da CIA até a alegadas reuniões secretas com o presidente da UNITA. O tom é categórico, indignado, quase ofendido. Mas no fim sobra a pergunta: será que negar, sem explicar, ainda convence alguém?

O silêncio das explicações A nota proclama que seria “impossível” corromper um agente da CIA. Impossível? Só se for nos filmes da Marvel. Em 1953, a Operação TPAJAX derrubou Mosaddeq no Irão (National Security Archive, 2013).

No ano seguinte, a Operação PBSuccess depôs Árbenz, na Guatemala (History State Department, FRUS 1952-54). Já no Chile, a Operação FUBELT preparou o golpe de Pinochet contra Allende (National Security Archive, 2023).

E ainda querem convencer-nos de que a CIA é uma congregação de monges? Quanto à alegada reunião com a UNITA, a defesa é que “a agenda o colocava noutra província”. Mas onde estão os relatórios oficiais, as fotografias, os testemunhos independentes? Ou a agenda foi escrita depois, como certas actas de condomínio ajustadas ao humor do dia?

E mais grave: se foi a TPA a emitir a reportagem, porque não exerceu HC o seu direito de resposta e de rectificação, previsto no artigo 73.º da Lei de Imprensa (Lei n.º 1/17)? Porque prefere notas anónimas nas redes sociais em vez de usar a lei e confrontar o órgão público, que é de todos os angolanos?

Não será esse silêncio legal mais eloquente do que mil desmentidos?

É o mesmo que o fariseu que Jesus denunciava: limpa o exterior do copo, mas deixa o interior sujo. Do que serve polir comunicados se o conteúdo essencial fica intocado? O ruído das denúncias Mas não é só HC que deve explicações.

A própria TPA tem de ser questionada: por que razão só agora decide expor estas ligações e suspeitas, precisamente quando se aproxima o IX Congresso Ordinário do MPLA em 2026? Será coincidência ou recado político?

Será que HC tem mesmo força para desafiar João Lourenço dentro do partido? Terá mais aceitação entre as bases do MPLA do que o actual Presidente? Ou será que estas denúncias são apenas um aviso: no MPLA só sobrevive quem aceita a regra não escrita de “roubar, mas deixar os outros roubarem também”? É isto a tal “unidade”?

Um pacto de silêncio e conluio? A coincidência do timing levanta mais perguntas do que respostas. Se as denúncias são reais, porque não vieram antes? E se são fabricadas, porque surgem agora? Em ambos os cenários, o país sai a perder — porque a verdade continua a ser refém da conveniência política.

O dever da TPA e a vigilância da ERCA E há um ponto que não pode ser esquecido: se a TPA pretende assumir-se como um verdadeiro órgão público, então deve alargar o crivo da sua investigação a todos os que se candidatem à liderança do MPLA.

Isso inclui também João Lourenço, caso venha a concorrer, confrontando-o com as promessas feitas quando foi eleito e com o que deixou por cumprir. Só assim se prova que a agenda da TPA está ao serviço do público, e não apenas de uma corrente interna do partido contra Higino Carneiro.

Cabe ainda à ERCA (Entidade Reguladora da Comunicação Social Angolana) vigiar e chamar a atenção para esta necessidade de imparcialidade. Porque, se a cobertura jornalística não for equilibrada, transforma-se em propaganda e mina desde logo a credibilidade do processo. A lição que fica Higino Carneiro pode citar Agostinho Neto e falar em somar e não dividir.

Mas moralizar a política não se faz com frases feitas. Faz-se com explicações claras, com provas documentais, com coragem para responder às acusações no foro certo. Negar sem explicar é uma farsa. E aceitar denúncias apenas quando o calendário político exige é transformar a verdade em arma de ocasião. Entre o silêncio das explicações e o ruído das denúncias, quem perde é Angola.

Carlos Alberto, Jornalista e Director do Portal “A DENÚNCIA” +244 923 570 539 (WhatsApp).

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