Jornalismo é exactamente isso: questionar. Fazer perguntas e sair do “script”

Quando comecei a fazer jornalismo, era normal os repórtes da editoria política ou “Nacional”, como se chamava na época, irem para a “kitota”.

Andar fardados, mesmo sem serem militares e nunca terem recebido treinamento especializado não era nada de outro mundo.

Perdi a conta do número de vezes em que saí de casa para trabalhar e regressei alguns dias depois. O meu baptismo foi aos 18 anos.

Viajei, literalmente apavorada, num helicóptero Mi-8 sobrelotado com militares e tambores de combustível. Devo ter feito um bom trabalho porque logo a seguir fui indicada para ir ao Moxico, o que só não aconteceu porque o Tico Costa, de feliz memória, prontificou-se para ir no meu lugar.

“Deixem a Luisinha, a miúda começou há pouco tempo…” Alguns dias depois recebemos a notícia da morte do Policarpo e do Isaquiel, devido a queda do helicóptero. Eu estaria lá!

Perdi a conta do número de vezes em que fiz reportagens em zonas de guerra. O pior não era isso. Os jovens são talhados para suportar tudo e mais alguma coisa, encarando desafios com leveza e espírito de aventura.

O pior de tudo, dizia, era algumas matérias serem vetadas por não merecerem a aprovação da Direcção Política. Os do meu tempo e, principalmente, os que chegaram antes de mim sabem do que falo.

Com o passar dos anos aprendi a “filtrar” informações e arranjar maneira de reportar sem escrever “à tratorista”, como diria o Graça Campos. Aprendi e explorar subentendidos e a escrever nas entrelinhas, em caso de necessidade.

Nas FAPLA, FAA e também nas FALA fiz amizades para a vida. Comecei a lidar com os últimos depois de Bicesse. Ainda assim, realizei várias reportagens em zonas controladas pela UNITA!

Já dormi numa zona de acantonamento com centenas, talvez milhares de militares. Acordei com o nascer do sol, ao som de cânticos e marchas ritmadas. Nos anos 1990, estive sozinha, algures no Mayombe, para uma importante entrevista com alguém da FLEC que, entretanto, não aconteceu.

Até já rastejei num corredor em Ouagadougou, Burkina Faso, à frente de um suposto pelotão de jornalistas durante um golpe de Estado. Mas num segurei numa arma. Tenho medo!

A guerra é das piores invenções da humanidade. Para mim, a única arma associada ao jornalismo é a caneta. Não tenho experiência militar para partilhar. Em contrapartida, tenho solidariedade incondicional para com a a jornalista da Ecclesia Lunda Sul.

Jornalismo é exactamente isso: questionar. Fazer perguntas e sair do “script”. Bom dia HELENA ISRAEL

Luísa Rogério/ presidente da Comissão de Carteira e Ética, dos jornalistas angolanos.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

4 + 3 =