Um agente de segurança foi assassinado a tiro dentro de um restaurante lotado quando almoçava com a família.
Uma violenta onda de ataques armados de criminosos ligados ao Comando Vermelho, maior facção criminosa do Rio de Janeiro que se expandiu para todo o Brasil, matou pelo menos quatro agentes de forças de segurança e incendiou pelo menos 15 autocarros escolares, de empresas e dos transportes coletivos desde domingo na cidade de Porto Velho, capital do estado brasileiro de Rondónia, na região amazónica. Esta quarta-feira, 15, a cidade, com mais de 450 mil habitantes, teve a madrugada mais violenta e amanheceu mais uma vez sem transportes coletivos, sem comércio, sem escolas e até sem unidades hospitalares em alguns bairros, obrigadas a fechar.
Nesta madrugada de terça para quarta, pelo menos 11 autocarros foram atacados e incendiados por criminosos dentro das garagens onde se encontravam, pois o serviço de transportes coletivos foi suspenso na noite de segunda-feira após outros quatro autocarros terem sido incendiados durante a operação normal nas ruas. Nos ataques desta madrugada, cinco autocarros eram particulares e destinados a transportar funcionários de empresas e estudantes, e os outros seis eram da frota normal dos transportes coletivos.
A onda de violência, que também tem tido ataques a prédios e a carros particulares, começou depois de a Polícia Militar (segurança pública) ter desencadeado no fim de semana uma grande operação numa região pobre conhecida como Orgulho do Madeira, controlada, segundo as autoridades, por traficantes do Comando Vermelho. A partir daí, em represália, os criminosos iniciaram ataques a autocarros, esquadras, tokens e viaturas da polícia e paralisaram Porto Velho pelo medo, tanto das ações criminosas quanto da resposta da polícia, trabalhadores não saem para os seus empregos e estudantes deixaram de ir à escola.
Um agente de segurança foi assassinado a tiro dentro de um restaurante lotado quando almoçava com a família no domingo, um cabo da Polícia Militar foi morto à porta de casa depois de ser atraído para a rua por duas mulheres que alegaram precisar falar com ele, e outros dois agentes foram mortos nesse período em outras circunstâncias. Carros da polícia que patrulham as ruas têm sido alvo de disparos, mas os agentes, já à espera de alguma ação hostil, conseguiram escapar vivos em todos os casos.
As polícias e as autoridades de Rondónia pediram ajuda de emergência ao governo do presidente Lula da Silva, mas, como costuma acontecer, a resposta foi demorada e insuficiente. O governo central enviou para Porto Velho somente 60 agentes da Força Nacional, um número claramente insuficiente para ajudar seja no que for, e, ainda por cima, com a missão de proteger prédios públicos e não de enfrentar os ataques diretamente, e apelos para aumentar o efectivo da Polícia Federal no estado ainda não foram respondidos.
O Comando Vermelho, maior e mais sangrenta organização criminosa do Rio de Janeiro, durante muito tempo limitou as suas ações a esta região do Brasil, e foi rapidamente suplantada no país inteiro pelo PCC, Primeiro Comando da Capital, formado em São Paulo e que passou a controlar todo o tipo de atividades criminosas de norte a sul do território brasileiro e já se expandiu para pelo menos 24 outros países. Mas o Comando Vermelho reagiu e, usando como arma uma violência e brutalidade sem limites, ganhou terreno, em muitas regiões conseguiu tomar o lugar do PCC e hoje domina pela força das armas e do terror principalmente estados do nordeste e do norte do Brasil, com destaque para os da Amazónia, como é o caso de Rondónia.